sábado, 6 de junho de 2015

Ecos e pausas




Uma vez vez eu li, em algum lugar que todo mundo hesita ao falar, só com a gente o negócio enrosca. Provavelmente devida às más experiências que já vivemos, associamos o hesitar ao gaguejar e com ele todas as coisas ruins que já experienciamos no falar. Desse modo, hesitações normais da fala que aparecem quando não temos certeza do que vamos falar ou quando estamos nervosos diante de um grande público por exemplo, podem se transformar em gatilhos que disparam a disfluência. Talvez um dos motivos pra isso acontecer é um suposto estereótipo de fala perfeita: mas não existe fala perfeita. Frequentemente contrapomos nosso falar ao de oradores, apresentadores, políticos, professores e outras pessoas que julgamos falar bem, contribuindo para uma ideia de ‘mal-falantes’. É importante se aperceber que TODAS as pessoas travam e repetem silabas, mas elas simplesmente não se importam com isso, ao menos não como nós nos importamos. ‘Tá, é preciso considerar que aquelas pessoas não tem as mesmas experiências ruins que a gente tem. Ok, mas o ponto é destruir o mito de uma fala perfeita, fluida, contínua. Isso só existe na mídia uniformizante e artificial, portanto não contempla a realidade e diversidade da fala humana. Basta olhar a baixa representatividade das variantes dialetais do português nas mídias quase sempre apresentadas na figura de personagens estereotipados: o caipira e os falares nordestinos são bons exemplos. Percebe-se então uma tentava de padronizar as falas num modelo esterotipado de fala perfeita e fluida. Isso dá pano pra manga, e é digno de postagens exclusivas só sobre esse tema. Devemos nos perguntar, existe perfeição? Existe fala perfeita? Perfeita segundo quem e em quais moldes? Pra que?

Eu percebi que quando tentava esconder minha gagueira de uma pessoa (ou pessoas), as vezes bastava uma esroscada pro resto todo aparecer. Desgrama! Bom, eu estava tentando esconder minha fala (me esconder, será?). A parada então é aceitarmos como nós somos, inclusive a fala. É preciso que aceitemos nossa própria fala para afirmar seu lugar no mundão multifônico na fora. É esse compromisso de reprimir nossas repetições e momentos de prolongado silêncio que geram tanta ansiedade e não aceitação de nossa parte. Temos o direito de enroscar e travar fluentemente! Para isso temos que aceitar a nossa fala, em todas as suas manifestações e desconstruir o paradigma imposto de fala que tanto incorporamos. Recusemos o modelo de corpo e fala que nos é imposto! Não há necessidade de qualquer sentimento de incompletude e nem de autorepressão.

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