sábado, 6 de junho de 2015

É ruim mas nem tanto

Eu tava pensando comigo se poderia haver algum lado bom na gagueira. Afinal, ao longo desse tempo o que aprendi foi repudiá-la, ao ponto de eu não gostar nem de tocar no assunto. Mas será que tem alguma coisa boa nela?
Bom, certamente que sim. Essa é a primeira vez que ‘to considerando essa hipótese seriamente, então vou colocar o que pensei por hora.
É preciso reconhecer que alguma i- iiiiiiii iiiii
influência na minha formação ela teve. Algo que interfere nas minhas relações com as pessoas, não pode ter sido de todo ii- insignificante. Mais ainda, todo o tempo que eu tive que manejar aqueles sentimentos ruins no meio do peito, aquela angústia e ansiedade, me fizeram mais forte com certeza. Lidar com aqueles sentimentos exige muito jogo de cintura e me fez desenvolver muitas estratégias. A gagueira me faz treinar minha ffflexibilidade e resiliência ante as diversas situações da vida. E tem ainda as diversas vezes que me senti frustrado em incapaz. Uma frutração e incapacidade esdrúxula pois deixa uma sensação de que eu poderia ter falado ou feito aquilo. Ao contrário do que parece, gagos não são pessoas frágeis, pelo contrário, gerenciar tudo isso não é algo trivial.
Como posso ter sido ensinado a odiar minha expressão natural de fala? Acaso um pássaro que aprendeu a cantar na cidade **, se se confrontasse com um pássaro do campo, repudiaria o seu canto?  Ter raiva da gagueira não é a produtivo, mais vale pensar: Aprendi a ter raiva da minha fala pelo fato dela não ser aceita pelas pessoas (e por mim, pois comparto da opinião dos outros). As pessoas se baseiam num modelo de comunicação ideal, que preconiza a mera troca de informações, de boca a ouvido, ou seja, reduz o complexo comunicacional a palavras e frazes. É o modelo mais eficiente para o tempo cada vez mais curto, para o mundo industrial e o mercado (=>capitalismo). A gagueira em si não  é culp-.. culpada. O relação gago-interlocutor tem mais responsabilidade nisso. Direcionemos nossa raiva nessa relação enferma e opressora (não nos interlocutores!) entre a gagueira e o interlocutor e repensemos os modelos de comunicação que geram vergonha e humilhação nos falares não hegemônicos.
A gagueira me deixou mais forte e mais inteligente (inteligência intrapessoal *, na verdade a emocional de modo geral).


*Howard Gardner, da Universidade de Harvard, propôs a teoria das inteligências múltiplas, segundo a qual os seres Humanos teriam 8 inteligências diferentes, e não uma como geralmente se admite. Assim, um garoto péssimo em matemática mas excelente com línguas estrangeiras, possui a inteligência linguística bem desenvolvida e a lógico-matemática talvez nem tanto. A inteligência intra-pessoal se refere a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos, concentrar-se, autoconhecimento, etc e usar esses recursos na resolução de problemas.


**Existem estudos mostrando que determinados pássaros que vivem em a áreas urbanas possuem padrões de canto modificados em resposta à poluição sonora.




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