sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Libras

Falar uma segunda língua é uma experiência legal e uma porta de entrada para uma nova cultura, ainda mais pra gente do Brasil onde o português é a única língua (sem considerar as indígenas e tal). A imensa maioria de nós temos experiências ruins com a nossa fala, e a vontade de aprender uma língua nova pode ser minada quando as dificuldades de falar um novo idioma se soma à opressão imposta ao nossos falares.
Usualmente quando pensamos em língua evocamos imediatamente as línguas orais, que é a modalidade em que se utiliza o trato vocal para produzir sons e os ouvidos para captá-los. A modalidade oral não é todavia a única modalidade possível, e como todos já devem ter visto, as línguas de sinais operam na modalidade espaço-visual sendo capazes de transmitir informações tão complexas quanto as línguas orais.As línguas de sinais podem ainda ser adaptadas para a comunicação de surdo-cegos, adquirindo componentes táteis. Isso significa que poderiamos aprender outras línguas em outra modalidade. Outras espécies usam outros meios, tais como as formigas que usam o tato e a quimiorrecepção para comunicarem-se. Isso me entusiasmou muito e no segundo semestre do ano passado me matriculei na diciplina de libras, o que eu ia ter que fazer mais cedo ou mais tarde pra me graduar na licenciatura. Desde de então, tenho me maravilhado com as línguas de sinais, com a possibilidade de me expressar na modalidade espaço-visual e mergulhar na cultura surda. Os surdos são vítimas do capacitismo na cultura Ocidental desde remotos tempos, tendo seus direitos historicamente negados, como por exemplo, não tendo acesso à educação. Muita vezes, ainda hoje são vistos como alvo de algum castigo divino por algo que os pais tenham feito e tem que lidar com chacotas e outras formas de agressão.
 Há até uns 40 anos atrás as escolas de surdos se baseavam no modelo oralista, focado na leitura labial e imitação da fala, e proibiam os estudantes surdos de usar línguas de sinais, pois acreditavam que isso atrapalhava o seu desenvolvimento e inserção na sociedade ouvinte. Foi somente com o trabalho de pesquisadores como William Stokoe que as línguas de sinais tiveram seu status de língua reconhecido e os surdos começaram a ter sua cultura reconhecida. Isso significa que aprender libras abre portas pra cultura dos surdos, com direito a gírias, regionalismos e tudo mais e ainda treina áreas do cerebro relaciondas à percepção espacial*
 E...não gaguejamos em Libras. Isto não quer dizer que não exista gagueira em língua de sinais, pois há registros  de surdos com comportamentos similares ao disfluente. Isto é teoricamente muiiiiito interessante! Deixo no final um link ** pra quem quiser ler mais a respeito, infelizmente em inglês. 

Interpretação que eu curti muito de Born this Way, Lady Gaga na Língua Americana de Sinais
https://www.youtube.com/watch?v=Qdw18whuCxw
Aquarela em Libras:
https://www.youtube.com/watch?v=d_OZ_-hrufA

* The bimodal bilingual brain: Effects of sign language experience   http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2680472/     
** The Existence of Stuttering in Sign Language and other Forms of Expressive Communication: Sufficient Cause for the Emergence of a New Stuttering Paradigm?
https://www.mnsu.edu/comdis/isad9/papers/snyder9.html

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