Falar uma
segunda língua é uma experiência legal e uma porta de entrada para
uma nova cultura, ainda mais pra gente do Brasil onde o português é
a única língua (sem considerar as indígenas e tal). A imensa
maioria de nós temos experiências ruins com a nossa fala, e a
vontade de aprender uma língua nova pode ser minada quando as
dificuldades de falar um novo idioma se soma à opressão imposta ao
nossos falares.
Usualmente
quando pensamos em língua evocamos imediatamente as línguas orais,
que é a modalidade em que se utiliza o trato vocal para produzir
sons e os ouvidos para captá-los. A modalidade oral não é todavia
a única modalidade possível, e como todos já devem ter visto, as
línguas de sinais operam na modalidade espaço-visual sendo capazes de transmitir informações tão complexas quanto as línguas
orais.As línguas de sinais podem ainda ser adaptadas para a
comunicação de surdo-cegos, adquirindo componentes
táteis. Isso significa que poderiamos aprender outras línguas em
outra modalidade. Outras
espécies usam outros meios, tais como as formigas que usam o tato e a
quimiorrecepção para comunicarem-se.
Isso me entusiasmou muito e no segundo semestre do ano passado
me matriculei na diciplina de libras, o que eu ia ter que fazer mais
cedo ou mais tarde pra me graduar na licenciatura. Desde de então, tenho me
maravilhado com as línguas de sinais, com a possibilidade de me
expressar na modalidade espaço-visual e mergulhar na cultura surda.
Os surdos são vítimas do capacitismo na cultura Ocidental desde
remotos tempos, tendo seus direitos historicamente negados, como por
exemplo, não tendo acesso à educação. Muita vezes, ainda hoje são
vistos como alvo de algum castigo divino por algo que os pais tenham
feito e tem que lidar com chacotas e outras formas de agressão.
Há até uns 40 anos
atrás as escolas de surdos se baseavam no modelo oralista, focado na leitura labial e imitação da fala, e proibiam os
estudantes surdos de usar línguas de sinais, pois acreditavam que
isso atrapalhava o seu desenvolvimento e inserção na sociedade
ouvinte. Foi somente com o trabalho de pesquisadores como William
Stokoe que as línguas de sinais tiveram seu status de língua
reconhecido e os surdos começaram a ter sua cultura reconhecida.
Isso significa que aprender libras abre portas pra cultura dos
surdos, com direito a gírias, regionalismos e tudo mais e ainda
treina áreas do cerebro relaciondas à percepção espacial*
E...não gaguejamos em Libras. Isto não quer dizer que não exista gagueira em língua de sinais, pois há registros de surdos com comportamentos similares ao disfluente. Isto é teoricamente muiiiiito interessante! Deixo no
final um link ** pra quem quiser ler mais a respeito, infelizmente em
inglês.
Interpretação que eu curti muito de Born this Way, Lady Gaga na Língua Americana de Sinais
https://www.youtube.com/watch?v=Qdw18whuCxw
Aquarela em Libras:
https://www.youtube.com/watch?v=d_OZ_-hrufA
* The bimodal bilingual brain: Effects of sign language experience http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2680472/
** The Existence of Stuttering in Sign Language and other Forms of Expressive Communication: Sufficient Cause for the Emergence of a New Stuttering Paradigm?
https://www.mnsu.edu/comdis/isad9/papers/snyder9.html
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