sábado, 6 de junho de 2015

Breve Histórico



Houve um tempo que falar sobre a gagueira era um taboo p’ra mim. Não gostava nem de falar nela. Eu comecei a gaguejar mesmo por volta dos 15 anos. Talvez eu já gaguejasse antes, mas isso nunca tinha me incomodado, de modo que eu gostava de me expor, fazer apresentações e essas coisas que depois que comecei a ter problemas com a minha fala parei de apreciar. Interessantemente, os meus 15 anos foi uma época em que aconteceram coisas na minha família e foi quando comecei a ter problemas com auto-estima e autoaceitação.  No meio de todo esse maremoto de coisas a gagueira apareceu (ou se fez notável) e começou a me intranquilizar. No começo tentei ignorá-la e fingir que não era nada. Claro, acho que foi a atitude mais acertada, já que não conhecia aquilo, era algo novo. Acereditei que ia passar. Aos 18 anos me mudei para Curitiba onde comecei a estudar Biologia, achei que essa mudança de vida ia deixar a gagueira p’ra trás.
A própria natureza oscilatória da minha experiência com a gagueira, a variação de intensidade de acordo com o dia, a pessoa ou a situação me fez acreditar que eu podia seguir escondendo ela da minha vida e das pessoas. Assim seria se ela não se manifestasse na intensidade que se manifestou nas horas que se manifestou. Ademais, eu sempre procurei ser reflexivo e ter uma ideia do que se passa no meu interior. Acredito que essa atiute, dentro de determinados limites obviamente, é uma ferramenta para a autocompreesão, evitar comportamentos que não condizem com minha visão de mundo e compreender melhor os outros também. Por um tempo a gagueira permaneceu um tópico pouco tocado nos meus momentos de reflexão. Era um tema doloroso, que trazia as emoções de angustia de quando se manifestava e só a ideia de que talvez eu tivesse conviver com ela o resto da vida era aterradora. Desse modo, a disfluência foi tomando proporções maiores, me privando de me expor em público, ou com certas pessoas. As minhas estratégias na maioria das vezes se basearam no modelo de fala perfeita, tanto dos outros como dos meus momentos de ‘fuidez’, e contribuiram para alimentar o dínamo da ansiedade. Até que eu fui me dando conta que alguma coisa precisava ser feita.
Comecei explorando as situações que me agravavam a gagueira e analisá-las segundo meus (parcos) conhecimentos de psicologia. De uma lado eu procurava as razões históricas que pudessem ter suscitado a aparição da disfluência, como o bullying que eu sofri na escola e a complexidade da minha estrutura familiar (divórcio de avós, tios, contato com amantes deles, etc). Por outro lado tentei associar isso à minha baixa autoestima e baixa aceitação na adolescência. Conforme eu avancei nessas reflexões, ainda que eu identificasse fatores que pudessem ser associados com a gagueira, eu senti que peças importantes estavam escondidas, dificilmente acessíveis no recôndito nebuloso do subconsciente e dada a complexidade da dinâmica mental. Eu precisava de alguém para me ajudar a desvendá-las. Procurei um psicólogo, e iniciei um tratamento. Mas a psicológa não me ajudou, e eu a julguei não preparada para a natureza da minha experiência (problema não é a palavra correta ;). Felizmente, com uma outra psicóloga o negócio andou e a terapia me ajudou a aceitar e enxegar coisas que até então eu não conseguia. Vale dizer também que minha inclinação para misticismo (reconhecer que a realidade física não é única e que tudo é interligado) e a sociologia (repensar e indentificar as diversas formas de opressão na sociedade Ocidental) tem me ajudado nessa caminhada!
Experiencio a gagueira há 7 anos aproximadamente :D
Ainda há um logo caminho a percorrer, porquanto vivemos numa sociedade normativa, capitalista, fragmentadora e incorporamos seus valores, reproduzindo-os nas nossas atividades. Todas as formas de conhecimento são válidas para a compreensão maior e integrada do mundo.


Um abraço forte a todos os leitores! Obrigado pela atenção!

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